domingo, 31 de janeiro de 2016

Lunar - Capítulo 3

Lunar Capítulo 3

Belita
"Um jogo só termina quando acaba!
Certamente você já ouviu esta frase, ou leu em algum lugar; não é uma pérola da filosofia universal, não chega a ser muito criativa.
Mas eu não conseguiria resumir melhor em outras palavras..."

A Noiva
Quando chegou à Estação Diva foi levada por Manuel a uma loja de vestidos de casamento.
- Manuel que precipitação é essa!
"Nossa quanto vestido lindo!" Pensou Diva.
- Mr. Gringh está ansioso.
- Mas ele disse que respeitaria os ritos da Materialismo Transcendental, entre eles o de guardar um ano de noivado.
"Olha a cauda desse!".
- Este tempo não é obrigatório. Andei lendo a respeito. – Comentou Manuel calmamente.
- Este tempo é necessário para que a minha matéria se vincule a matéria dele. Bem como definirmos como trataremos os bens materiais que possuímos.
"Que decote enorme! Não sei se teria coragem de usar!".
- Bem material não é problema para Mr. Gringh. Ele tem o suficiente por vocês dois. – Manuel procura ser didático.
- Esta é a questão.  Falta equilíbrio.  Eu não posso unir-me a ele em condição tão desfavorável.
"Que tem demais no decote!? Eu danço em público com trajes mínimos!" – Sorriu Diva discretamente.
- Do que você está falando? – Manuel esboçou uma leve impaciência.
- O casal tem que unir-se em condição de igualdade: emocional, material e principalmente espiritual.
- Isto vai ser mais difícil que eu imaginava. – Retrucou Manuel. 
Thomas Gringh tinha lhe dado 3 horas, das 4 da parada na Estação para providenciar o casamento.

Líder Espiritual
Manuel vai ao encontro de Thomas Gringh em seu escritório na Estação; ele possuía um escritório em todas as localidades que tinha negócios.
- Chefe está difícil, ela insiste em cumprir o ano de noivado.
- Mas o Guru não nos confirmou que não é obrigatório? – Perguntou Thomas Gringh sem desviar os olhos de sua tela de Gráficos e estatísticas empresariais.
- Na verdade ele fez uma interpretação livre. O texto diz que o ano de noivado é para que se equilibrem as poses dos noivos, é que se reforcem vínculos entre o casal; entre outros preceitos. Sendo possível realizar o casamento antes, caso os noivos concordem que a harmonização aconteceu antes.
- Ora então a convença! – Disse Thomas Gringh olhando-o como se o tivesse mandado cortar as unhas.
- Poderia me poupar desta missão; que tal me passar a difícil missão de negociar as áreas ocupadas por invasores de seus domínios em Lunar. – Disse Manuel visivelmente desanimado.
- Há há há há há! - Gargalhou Thomas Gringh - Se vencer Diva, certamente estará apto. Ânimo Manuel! Faça o que for preciso. Seu tempo está correndo! – Ele conhecia Manuel, sabia que, da parte dele, a tarefa seria cumprida.

Abdam Malok
Manuel não tinha alternativa, teria que recorrer a Abdam Malok, líder supremo da Materialismo Transcendental. De sua sala de trabalho ele entrou em contato com Abdam Malok, através do comunicador em modo vídeo chamada.
- Malok! Preciso que convença Diva. – Manuel demonstrava impaciência.
- A interpretação doutrinária não foi suficiente? – Abdam Malok transmitia calma. 
- Nem comentei com ela. Ela tem os preceitos cravados na mente, e em entendimento literal!
- Ela cresceu em um Templo, foi fortemente doutrinada. Mas para dançar no Grupo fez algumas concessões, então podemos convencê a fazer algumas agora.
- A qual preço?
- Nada que Thomas Gringh não possa pagar!

O coração de Diva foi à boca quando viu de quem era a chamada.
- Mestre Malok!
- Harmônica Material minha filha!
- Harmônica Material Mestre! Uma honra receber sua ligação!  Fiz alguma coisa errada?
- Não!  Pelo contrário.  Quero parabeniza-la pelo seu casamento.  Fui convidado por Mr. Gringh pessoalmente para fazer a cerimônia.
- Não sei se haverá casamento.  Foi tudo muito rápido.  Não tivemos tempo de harmonizar.  Nem de equalizar nossas posses. Ele materialmente é muito superior a mim.
- De um modo geral estes preceitos tem o intuito de evitar que as pessoas se casem sem se planejar, tem um caráter mais prático, didático, que espiritual.  Se você ama o Mr. Gringh o suficiente para viver com ele o resto de sua vida, não há que os impeçam.
- Eu amo. Mas não se é esse tanto...
- Então não tem a ver com a nossa doutrina. Deixe claro isso!
- Mas eu também tenho muito respeito por nossos preceitos doutrinários. Isto está me deixando confusa!
- O que tenho a dizer é que não há nada em nossa doutrina que a proíba de casar com alguém com a qual queira casar, existem as recomendações doutrinárias de caráter prático. Assim como não há nada em nossa doutrina que a proíba de dançar com pouca roupa, de forma sensual e provocativa, em público. Mas há recomendações de que se preserve e se apresente de forma descente em público.
- Que quer dizer?
- Que se você quer casar-se com Mr. Gringh não há nenhuma restrição de caráter doutrinário. Assim como quando você decidiu dançar no Grupo não havia. Nosso Deus e nossa doutrina preza o livre arbítrio. Você quer casar-se? Esta é questão.  Não atribua a culpa a nossa religião.  Mas vá lá e diga isso a ele!
- Direi! - Disse Diva depois de um longo suspiro.

O noivo
Diva entrou no escritório de Thomas Gringh decidida.
- Querida Diva!  Estamos providenciando tudo para que você tenha o casamento mais lindo do Sistema Solar conhecido!  - Disse Thomas Gringh animado.
- Não vai ter casamento Thom!
- Como não! Você aceitou meu pedido!
- Thom! Não posso casar sem cumprir o tempo de noivado!
- Que tempo? Acha que eu vislumbro este tempo todo? O tempo é agora Diva! - Disse ele resoluto.
- Mas não é só o tempo. Conhecemos-nos pouco! Não sei nada de você!
- O que você precisa saber de mim? Acha que isso realmente importa? Vamos nos conhecer no dia a dia. Talvez você passe a gostar de mim. Talvez me odeie para o resto de sua vida!
- O fato é que não sei se gosto de você o suficiente para casar-me com você!
- Pois pode ter certeza que eu não gosto de você o suficiente para casar-me. Casar é o de menos.  Já casei 6 vezes. Separei o mesmo tanto. Mas gosto de você, e apesar de prematuro, posso dizer que te amo o suficiente para viver o resto de meus dias com você!
Diva suspirou, visivelmente confusa.
- Mas respeito sua decisão.  Se não quer casar-se; encerramos aqui...
- Thom. Se ainda me quiser, serei feliz em estar com você a partir de hoje para sempre.
- É o que mais quero!
Diva Abraço-lhe. E ele a beijou.

Manuel sentiu o corpo gelar quando viu a chamada de Thomas Gringh.
- Pois não senhor!
- Porque está parado como um poste?! Quando falta apenas 45 minutos para se realizar um casamento nesta Estação.
- A noiva senhor. Estar irredutível!
- Ela me disse que você que está fazendo corpo mole!
Diva aparece de detrás de Thomas Gringh com um belo sorriso.
- Vamos lá Manuel! Não temos muito tempo! – Disse Thomas Gringh.
Manuel respirou aliviado.

- Há alguma restrição para sexo antes do casamento?  - Perguntou Thomas Gringh em tom de brincadeira.
- Não sei Thom.  Eu ando tão confusa ultimamente. - Respondeu Diva seriamente.
- Acho que se não atrasar a cerimônia, não há problema!  - Disse ele ironicamente.
Diva começou a rir. Entendeu que ele estava brincando.
Então ele a conduziu pela mão para seu apartamento, um andar acima do escritório.

Manuel deixou o salão de eventos pronto a tempo.
Todos os passageiros do voo da Zumbi e a tripulação; e demais que estavam na Estação; foram convidados para a Cerimônia e a Festa. Quase 400 pessoas.
Thomas Gringh atrasou 10 minutos.
- Parabéns Manuel!  Está tudo perfeito.
- Estou preocupado com o atraso, já devia ter começado.  - Disse Manuel aflito - Onde está a noiva?
- No Salão de Beleza.
- Meu Deus!

A noiva demorou.
Devido o atraso de Diva, o comandante da missão recebeu um chamado da Base de Alcântara.
- Comandante boa noite. - Cumprimentou Carlos Santos.
- Boa noite Carlos! - Respondeu o comandante visivelmente constrangido.
- Já enviamos várias notificações de atraso do voo, nossos registros não acusam falhas técnicas, seu pessoal não informou nenhum problema.  O que acontece?
- Carlos, Mr. Gringh está promovendo um evento na Estação e estamos aguardando o término.  - Apesar de Carlos coordenar o voo, ele não tem ascendência sobre o comandante que está vinculado a Força Aérea.
- E quando termina?
- Ainda não começou.
- Nós temos horário reservado para pousar na Lua, o atraso vai acarretar multa, fora as implicações técnicas, e teremos que pagar todo prejuízo que causarmos as demais operações no Centro Aeroespacial de Lunar.
- Mr. Gringh pagará todos os prejuízos que venha causar.

- Aposto que é o inconveniente coordenador Carlos! - Disse Thomas Gringh ao comandante.
- Ele mesmo.
- Admiro este camarada. E o odeio!
Enquanto tecia esse comentário, Thomas Gringh viu um documentário em um dos telões do salão de eventos. O documentário mostrava uma engenhosa forma de enviar objetos para os astronautas que trabalhavam do lado de fora da Estação. Um canhão de ar comprimido lançava um cilindro para fora e o astronauta o capturava com a mão, ou uma ferramenta, dependendo do tamanho do objeto.
- Comandante! Conhece aquela ferramenta? - Sim. Gambiarra brasileira para economizar tempo e dinheiro. Antes o astronauta tinha que vir até Estação e pegar o material em uma sala específica.
- Tem como lançar uma garrafa de champanhe?
- Temos várias bitolas de canhões.
- Ótimo!

Quarenta Minutos de atraso.
Enfim soou a marcha nupcial.
Diva entrou elegantemente impávida! E emocionou-se quando viu Abdam Malok no púlpito pronto para celebrar seu casamento.
Os noivos cumprimentaram Abdam Malok com um leve aperto de mão.
Enquanto Abdam Malok abria os trabalhos da cerimônia, Diva quis saber.
- Como ele chegou aqui?
- É uma holografia! - Respondeu Thomas Gringh.
- Não pode ser. Eu toquei a mão dele!
- É uma holografia tátil!
- Hã!
- Então estamos hoje reunidos neste local, para unir em matrimônio este casal. - Proclamou Abdam Malok, elevando sutilmente a voz a fim de ter a atenção dos noivos.