terça-feira, 31 de maio de 2016

Lunar - Capitulo 6

Lunar Capítulo 6
 
Belita
"Quando tudo fica muito confuso, a melhor atitude a tomar é ficar quieto!"
 

O escritório central da Domex ficava na região central de Lunar.
Manuel acompanhou Diva em seu primeiro dia como proprietária do conglomerado mais poderoso do eixo Terra-Lua.
Diva não fazia idéia. 
Acostumada com o assédio de fãs,  se viu diante de um assédio protocolar e na maioria das vezes frio, distante; apesar de sempre muito respeitoso. 
Entraram na sala de reunião. 
Todos os presentes se levantaram. 
Homens e mulheres em trajes executivos.
Diva trajava vestes juvenil.  
Mas aconselhada por Manuel preservou o decoro.
- Estou mais chocada que vocês!  Disse após os cumprimentos e apresentações habituais.  - Quando embarquei a caminho de Lunar, meus objetivo era fazer um show com a Banda na qual trabalhava e voltar para Terra com este registro no currículo e boas lembranças. 
Mas, como todos sabem, não foi assim que aconteceu.
Legalmente,  estou no comando interinamente;  enquanto o corpo de Thomas, e dos demais, não forem localizados, são considerados desaparecidos.
- Ou se expirar o prazo de busca para constatar a impossibilidade de resgatar os corpos. - Completou Manuel. 
- Alguém ainda tem esperança de localizar corpos? - Perguntou o vice - presidente executivo. - A nave explodiu no espaço,  se despedaçou! 
- Eu! Eu tenho! - Disse Diva resoluta.

Foram tratados outros assuntos.
Diva deixou claro que não tinha expertise nem interesse para propor qualquer ação; e nomeou Manuel seu procurador. 
Ela voltou para o apartamento de propriedade de Thomas Gringh, agora também seu.
Manuel foi para o escritório de Thomas Gringh.  Não ousou ocupar a mesa do chefe; foi para sua sala que fica dentro do escritório de Thomas Gringh. 
Logo recebeu uma ligação do vice - presidente executivo. 
- Parabéns Manuel! Conseguiu assumir o comando de todo conglomerado.
- Circunstancialmente. Mas compreendo sua indignação. 
- Questão de tempo. Questão de tempo!

- Precisamos encontrar logo seu corpo chefe! 
Disse Manuel para  o perfil neural de Thomas Gringh. 
- Precisamos encontrar qualquer corpo em bom estado. Fazer uma boa plástica e implantar minha consciência virtual.
Respondeu o perfil neural de Thomas Gringh a Manuel. 
- Chefe?! - Exclamou atônito Manuel. 
- Claro! Estou esperando há dias você acessar meu perfil!  O que esteve fazendo?
- Até que data tem registros?
- 6 dias atrás. 
- Qual último registro? 
- A confusão na Zumbi após as explosões e a luta para entrar no bunker.
- Depois mais nenhum registro?
- Por mim mesmo inputado não. Eu havia implantado o registro em real time a poucos dias. Acompanhei o noticiário pela net. Já conclui que devo está morto, ou desacordado em algum hospital.  Não tenho registro de ter acionado o traje de sobrevivência. 
Pode ser que não tenha acionado mesmo, ou sofreu alguma pane.
- Chefe, não sei quem tem mais novidades para contar. - Ponderou Manuel.
- Vou querer saber tudo! 
- As equipes de resgate estão vasculhando toda a região do acidente.  Localizaram muitos destroços e partes de corpos,  todos foram identificados por DNA. Mas nada do seu.
- Não podemos contar com as autoridades.  Muita gente me quer morto, outros preferem desaparecido.
- O Presidente tem se empenhado pessoalmente. Diz que deve-lhe muito, inclusive a vida.
- Cuidado redobrado!  Quem muito deve muito ganha com meu sumiço! - Deu uma pausa longa - Estou preocupado com Diva, ficou muita responsabilidade em suas mãos...
- Estou assessorando-a em tudo. 
- Como reagiu? 
- Está muito triste.  Mas se deu bem na reunião com a diretoria executiva. 
- Como assim!  
- O Estatuto diz que na vacância da Presidência do Conselho Diretor Executivo,  o herdeiro do maior acionista assume.
- Passaram quantos dias?
- Sete. Hoje é o sétimo dia. Ela se saiu muito bem,  demonstrou capacidade de liderança e objetividade. 
- Tomou alguma ação importante? 
- Me nomeou seu procurador. 
- O que?
- Por tempo determinado.  Apenas enquanto não se resolve sua situação civil. 
- Dos males o menor, confio em você. 
Manuel sorriu aliviado. 
- Vou disponilizar meus registros do meu perfil neural para consulta. Assim não preciso ficar narrando e ganhamos tempo.
- Faça melhor, me libere os registros real time, afinal você está tomando conta de tudo que é meu.  Melhor eu ficar de olho! 

Triste. Talvez não seja esse o sentimento. 
Diva, envolta de um turbilhão de acontecimentos,  estava mais para confusa do que para triste. 
Sentia falta de um colo, um abraço acolhedor.
Seu pai foi compreensivo e acolhedor. 
Sua mãe foi dura e acusadora. 
O excesso de condolências e manifestações de pesar que recebia por notificações de desconhecidos em seu comunicador a irritava.
As buscas por restos mortais se encerraram , era o que dizia os noticiários, e ela sabia que este seria o começo de uma fase em sua vida para qual não se  preparara.
Ela não tinha tempo para chorar por seus amigos mortos, muito menos por seu falecido marido,  que mal conhecera.
A mídia trazia muita informação,  comentários, análises, previsões etc; de como ficaria o conglomerado empresarial após seu falecimento. 
Os comentários maldosos a respeito da jovem dançarina que poderia ficar a frente dos negócios a irritavam, machucava mais que as perdas dos amigos e marido.
Mas não deixava de ser uma fonte de conhecimento,  que de outro modo ela levaria meses para absorver. 
Por isso passou todo dia assistindo programas de TV. Foi anotando o nome dos comentaristas mais coerentes.
Depois ficou a noite a dentro vendo vídeos nos serviços de streaming. 
Ela não iria conseguir dormir mesmo.

- Bom dia Diva!
Manuel ligou logo cedo. 
- Bom dia Manuel!  - Respondeu ela sonolenta - Soube que encerraram as buscas.
- Verdade.  Mas vou contratar uma equipe de busca particular. Tenho forte convicção de que não foram feito todos os esforços. 
- Pensei nisso. Pelo que acompanhei nos noticiários,  cumpriram os protocolos de busca e devido a magnitude da explosão chegaram a conclusão que nao só não há sobreviventes, como também não há como resgatar corpos.
- Surpreendente!  Não esperava que estivesse tão bem informada. 
Diva sorriu timidamente. 
Ela mesma não se reconhecia.
Nunca tinha assistido a tanto noticiário ininterruptamente. 
- Temos mais uma questão.  Carlos Santos, do Centro Aeroespacial,  virá pessoalmente acompanhar as investigações do acidente. 
- Devemos lhe explicações... Explodimos a nave dele.
- Convém não falar isso nem de brincadeira. Até porque a nave não era dele e nós não a explodimos.
- Foi uma ironia Manuel. O excesso de zelo dele, fazia parecer que era dele. E obviamente não a explodimos.
- Neste ramo que estamos,  as palavras são armas! Devemos usar sempre com moderação. 
- Entendi.